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3º CENÁRIO - ABUSO DE ÁLCOOL

:::: 1.ª AÇÃO: APROXIMAR-SE DA PESSOA, OBSERVAR E AJUDAR

  • É bem possível que consigas reparar em algumas alterações no comportamento do Rafael que podem revelar que está abusou de substâncias. A mais comum é a queixa dos efeitos de ressaca logo de manhã ou então durante o dia, sendo as mais comuns as dores de cabeça, ter sono ou então uma sede intensa.
  • Quando repetido várias vezes o consumo excessivo de álcool, pode ter efeito no rendimento escolar, baixando as notas, não fazendo os trabalhos ou até faltar à escola. Depois pode diminuir a capacidade de concentração, o abandono das atividades de lazer e desporto. É também frequente que sintas que o teu amigo que tem consumido álcool ou outras substâncias de forma abusiva se isole
  • Como amigo ou pessoa que se preocupa com o Rafael, podes começar por falar com ele.  Esta abordagem deve ser pensada e planeada. Não fales com o Rafael acerca deste assunto em qualquer lugar, tenta escolher um que seja confortável e familiar, e onde possam conversar sem que haja risco de serem interrompidos ou escutados. A casa de um de vós pode ser um bom sítio, mas preferencialmente numa altura em que pais não se encontrem presentes, para que ele não se sinta envergonhado ou pressionado. Outra alternativa é um jardim ou um lugar calmo. É importante lembrares-te que nunca deves falar com ele numa altura em que ele esteja ainda alcoolizado ou então de ressaca!
  • Tenta compreender o que é que o Rafael pensa acerca do seu comportamento e se ele acha que tem um problema, no entanto, assegura-te que ele está pronto e disposto a falar acerca deste assunto. Se estiver, pergunta-lhe se está com problemas, quer a nível escolar, familiar ou em relações com os seus amigos/namorada. Foca-te neste assunto e não te disperses na conversa, mas com cuidado, pois ele pode negar o seu consumo de substâncias e o facto de o estares a confrontar com esta situação pode gerar conflito entre vós. Para além disso, ele pode não se lembrar da forma como se comportou.
  • Se te sentires nervoso ou inseguro enquanto estás a falar com o Rafael, não te preocupes, é normal. Apesar deste nervosismo, começa a conversa utilizando frases que possam ser entendidas como de preocupação, apoio, interesse e incentivo, por exemplo:

          - Estou preocupado contigo e quero ajudar-te para que te sintas melhor.
          - Eu acho que este abuso de substâncias te está a prejudicar.
          - Podes contar com o meu apoio para ultrapassares esta situação.

  • Não utilizes, em momento algum na conversa, frases que possam ser entendidas como uma acusação ou julgamento, tais como:

          - És um bêbedo!
          - O teu comportamento vai-te fazer perder os teus amigos todos!
          - Tens sido irresponsável!

  • Não te esqueças que, da mesma forma que tu podes reagir de várias formas a esta situação, o Rafael também pode manifestar todo o tipo de reações a esta conversa. Pode ficar aliviado por admitir que alguma coisa se passa e que é um problema, pode ficar incomodado e zangado, ou então negar que exista um problema. É importante que mantenhas a calma, e nunca digas: «ok, não queres falar, o problema é teu». Mostra-te disponível para falares com ele se algum dia ele assim o desejar e compreensivo com a opção de ele não querer falar.

 


:::: 2.ª AÇÃO: NÃO JULGAR E ESCUTAR COM ATENÇÃO

  • Escutares o Rafael é muito importante, porque esta pode ser a oportunidade dele te contar o que se passa, porque consome substâncias e como se sente. Apesar de ser difícil para ti, é importante que não o julgues ou formes quaisquer juízos de valor acerca daquilo que ele te está a contar, especialmente que não o «rotules» de bêbedo. Deves deixá-lo falar e não fazer comentários. Pode parecer-te absurdo num primeiro momento, mas é fundamental que ele sinta que pode confiar e contar contigo. Se te perguntar o que pensas, nunca respondas sem refletir bem sobre o assunto, para teres a certeza que falas com ele com uma «mentalidade aberta».

 

  • Não te esqueças que este momento é embaraçoso, pois ele está a admitir o seu problema e a forma como se sente, sinal de que confia em ti, confiança que não deves desvalorizar. É importante que te certifiques que estás a perceber tudo o que ele te diz, mesmo que tenhas de lhe perguntar mais do que uma vez ou que tenhas de resumir todas as informações que ele te dá. Por exemplo, podes usar a frase: «aquilo que tu me estás a tentar dizer ou disseste é que…»


  • Para que a comunicação seja eficiente, deves ter em mente três princípios: aceitação, honestidade e empatia.
  • A aceitação significa que deves respeitar o que o Rafael está a vivenciar, bem como valorizar os seus sentimentos e crenças, mesmo que sejam diferentes dos teus;
  • A honestidade quer dizer que deves ser verdadeiro no teu comportamento, não agindo de formas oposta, isto é, dizer que compreendes e depois afastar-te dele ou expores o problema dele sem respeitares a sua privacidade. Não te esqueças que ele confiou em ti;
  • A empatia significa que és capaz de imaginar o que ele está a passar e consegues colocar-te no lugar dele, ou seja, se ele te estivesse a ajudar, e o que seria se estivesses tu a viver essa situação.
  • Quando o Rafael estiver a falar contigo, evita expressar as tuas convicções pessoais ou então reações negativas que possam ser vistas como um julgamento, tais como:

          - Estou muito desiludido com o teu comportamento.
          - Nunca pensei que fosses fraco ao ponto de teres de beber para esquecer os teus problemas.
          - Assim nunca hás-de fazer nada da tua vida.

  • Lembra-te que o Rafael pode não conseguir mudar o seu comportamento de repente. Tem paciência e apoia-o neste processo. Não esqueças, também, que nem sempre é fácil falar acerca de nós e do que sentimos, portanto, mesmo que ele tenha dificuldades em falar não o interrompas quando ele o estiver a fazer nem te precipites com interpretações.
  • Muitas vezes as nossas expressões faciais e corporais dizem mais que as palavras. Além de deveres respeitar os seus silêncios, deves adotar uma postura amigável, sem fazer cara de admirado, de quem está a fazer um frete ou a apanhar uma seca. Não cruzes os braços pois pode significar que estás na defensiva e tens receio. Se puderes, não estejas de frente para ele, mas sim ao seu lado, para criares proximidade. Olha-o nos olhos, de um modo que ele se sinta confortável. Se ele estiver sentado, senta-te também. Se ele estiver de pé e achares melhor, senta-te para que que não se sinta pressionado.



:::: 3.ª AÇÃO: INFORMAR E APOIAR

  • Depois de escutares o Rafael torna-se mais fácil seres capaz de lhe prestar apoio e procurar informação útil acerca do abuso de substâncias, para que ele tenha consciência dos riscos que corre. É muito importante que ele sinta que a tua preocupação é genuína e que o compreendes. Também é muito importante que percebas se ele está disposto a mudar os seus comportamentos, mas não te esqueças que não vai ser fácil para o Rafael deixar de usar substâncias de um momento para o outro, mesmo que seja essa a sua vontade. Apesar de os teus conselhos serem úteis, por si só, não vão resolver o problema dele. Ele pode tentar resolvê-lo várias vezes, sem sucesso, até conseguir. Se achar que não consegue deixar as substâncias de vez, incentiva-o a fazê-lo gradualmente. Sê paciente e atencioso para que ele não sinta que o vais abandonar.
  • Lembra-te que a mudança de comportamentos do Rafael não vai ser fácil nem rápida. Ele vai ter de passar por uma série de fases, até conseguir estar capaz de mudar. Estas fases são:
  • Fase 1 – Pré contemplação (O Rafael pensa que não tem nenhum problema)
    Nesta fase podes dar-lhe informação acerca da situação que está a vivenciar e podes falar-lhe acerca dos riscos que corre.
  • Fase 2 – Contemplação (O Rafael pensa que pode ter um problema) Encoraja-o a manter este pensamento e fala-lhe acerca dos benefícios da mudança.
  • Fase 3 – Preparação (O Rafael decide mudar)
    Apoia-o nessa decisão e ajuda-o a elaborar um plano para acabar com o abuso de substâncias.
  • Fase 4 – Acão (O Rafael inica a mudança de comportamento)
    Ajuda-o a arranjar estratégias para se manter afastado dos lugares e das pessoas que abusam de substâncias.
  • Fase 5 – Manutenção (O Rafael mantém os novos hábitos)
    Apoia-o na manutenção dos novos comportamentos, mantendo-o focado nos aspetos positivos de não abusar de substâncias.
  • Se o Rafael estiver disposto a mudar os seus comportamentos, podes ajudá-lo sendo um bom amigo e um bom ouvinte e podes ajudá-lo procurando informações acerca de profissionais que o possam ajudar. Podes, ainda, aconselhá-lo a falar com os seus pais, ou podes tu fazê-lo, tentando explicar-lhes a situação e recomendar que eles não «ralhem» com ele, pois isto não lhe vai dar o incentivo correto para mudar. É muito importante que digas ao Rafael que não precisa de beber, para que os seus amigos gostem dele, pelo contrário. Fá-lo crer que tem sempre o teu apoio e a tua amizade.
  • Se ele não admitir que tem um problema ou se não estiver disposto a mudar os seus comportamentos podes ajudá-lo com estratégias que podem criar juntos, tais como, ele ligar-te quando tenha vontade de beber, irem praticar desporto juntos… Outra coisa que podes fazer é procurares um profissional de saúde especializado, para que ele te possa dar mais informações acerca de como podes ajudar o Rafael. Se ele continuar com o abuso de substâncias é muito importante que continues a falar com ele com calma, sem «ralhar» com ele, nem ameaçá-lo ou fazê-lo sentir que estás desiludido com ele. Não arranjes desculpas para o seu comportamento.
  • Existe informação disponível que podes procurar e fornecer sobre apoio a problemas de saúde mental, como é este caso. Procura informação correta e apropriada para a situação e idade do Rafael. Se sabes pouco ou nada sobre o assunto, assume e procura a informação com ele.



:::: 4.ª AÇÃO: PROCURAR AJUDA PROFISSIONAL ESPECIALIZADA
INCENTIVANDO A PESSOA A OBTÊ-LA

  • Se o Rafael admitir que precisa de ajuda, informa-te, por exemplo através deste website e discute com ele as várias opções profissionais de ajuda disponíveis. Se ele não souber onde pode procurar ajuda, incentiva-o e acompanha-o nessa busca, mesmo que demore algum tempo. Podes acompanhá-lo na ida ao médico de família ou ao psicólogo da escola pois eles conseguirão fazer o encaminhamento para o profissional de saúde mais adequado. É fundamental que não desistam!
  • Devido à sua situação, o Rafael também pode não querer ajuda. Neste caso, procura perceber as suas razões, pois podem estar relacionadas com os preconceitos pessoais relativamente às fontes de ajuda que se baseiam no estigma que estas doenças implicam. O teu apoio pode ser essencial para que ele consiga ultrapassar os seus medos. Se mesmo assim ele não quiser procurar ajuda profissional, lembra-lhe sempre que tem o teu apoio caso mude de ideias. É de considerar a possibilidade de contactares os seus pais ou até mesmo um profissional. Tal não implica que estejas a trair a sua confiança, pois procuras a melhor forma de o ajudar. Não desistas de o ajudar. Sê compreensivo, positivo e encorajador.



:::: 5.ª AÇÃO: INCENTIVAR O RECURSO A OUTROS APOIOS

  • Encoraja o Rafael a procurar outros apoios, tais como a família e os amigos, no entanto, tem cuidado com o grupo de amigos dele. Ajuda-o a evitar os amigos que abusam de substâncias, pois podem ser um obstáculo à sua recuperação. Se for necessário contacta também organizações que disponibilizem informação e prestem apoio a pessoas que estão a passar pela mesma situação. Esclarece as tuas dúvidas. A recuperação do Rafael pode ser mais rápida e eficaz se ele se sentir apoiado e confortável no ambiente que o rodeia.



COMO AGIR SE O RAFAEL ESTIVER ALCOOLIZADO?

Quando o Rafael estiver embriagado, pode dar alguns sinais relativos ao seu estado. Estes podem variar com o nível de álcool no sangue que ele tiver nesse momento. Numa fase inicial, estes sinais podem incluir falta de coordenação motora, discurso arrastado, quedas, comportamento mais agressivo, vómitos e sonolência. Se ele continuar a beber pode ser necessária a intervenção de uma equipa médica. Se tu vires que ele está inconsciente, com uma respiração diferente do normal, a vomitar continuamente, sem o conseguires acordar, com a pele pálida e fria ou se ele não reagir deves pedir ajuda (112).

Nesta situação deves manter-te calmo e falar com ele calmamente e com uma linguagem simples. Tem atenção a alguns comportamentos de risco que o podem colocar em perigo, como por exemplo, andar sem cuidado numa estrada movimentada ou a possibilidade de ter relações sexuais desprotegidas. Assegura-te que ele não fica sozinho, em situação alguma e não lhe dês comida. Se ele estiver acordado e a vomitar podes sentá-lo e colocar-lhe açúcar debaixo da língua, mas se ele estiver inconsciente vira-o de lado para que ele não sufoque com o seu vómito. (ligação imagem PLS) Tenta mantê-lo quente, pois ele está a perder muito calor. Não te esqueças que só vai recuperar com o passar do tempo, portanto, não vale a pena tentares «curar-lhe a bebedeira» com café ou banhos de água fria.

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